5/6/2015, [*] Pepe Escobar, RT – Russia Today
And the winner of the Jihad World Cup is…
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
ISIS/ISIL/Daesh desfilam por vilas na Síria |
A coalizão de vontades que os EUA reuniram e que – supostamente – estaria combatendo contra os terroristas do ISIS/ ISIL/ Daesh em todo o “Siriaque” reuniu-se em Paris essa semana. Em teoria, examinaram o que fazer a seguir, depois de perderem Ramadi no Iraque e Palmyra na Síria.
Mas o roteiro parece saído diretamente do Manifesto Surrealista.
O nº 2 do Departamento de Estado dos EUA, Tony Blinken, jurou que Washington não tem qualquer dúvida quanto à sua estratégia “vencedora”. Insistiu que a estratégia “vencedora” matou no mínimo 10 mil jihadistas do Califato fake. Um coro de espiões da CIA foi obrigado a arregalar os olhos.
Blinken também insistiu no “progresso”. Deve ter confundido essa história e o caso do FBI resolvendo prender uns figurões da FIFA. A coalizão, como era de esperar, apoiou Bagdá – com muita retórica e vagas promessas de mais armas, e exortou o governo a ser mais inclusivo na relação com tribos sunitas.
Ninguém tratou do assunto de que foi a base de apoio de Ba’athists entre os sunitas – pode-se chamá-los, à moda Donald Rumsfeld, de “remanescentes” do governo de Saddam – que assegurou o sucesso do Califato fake na província de Anbar. E por isso Bagdá não pode ser muito “inclusiva”.
A coalizão, também previsivelmente, praticamente nem falou da Síria. Não há absolutamente qualquer diferença ideológico-religiosa entre a Frente al-Nusra – ramo da al-Qaeda na Síria – e o ISIS/ ISIL/ Daesh. Pois o Qatar e a Turquia dormem na mesma cama com a Frente al-Nusra, ao mesmo tempo em que fazem crer que se oporiam ao Califato fake.
Permanece a ficção de que a coalizão apoiaria “rebeldes moderados” remanescentes do Exército Sírio Livre. Não resta nenhum rebelde “moderado”; todos eles migraram para a Frente al-Nusra ou para o ISIS/ ISIL/ Daesh, porque é onde está a ação – de toneladas de armas, a verdadeiras proezas militares em solo.
E então há também o Jaish al-Fatah – o Exército da Conquista; fantástico híbrido gerado em novilíngua, que encobre o fato de que o Ocidente “progressista” – mancomunado com as proverbiais petromonarquias do Golfo vassalas – faz chover armamento e dinheiro sobre a Frente al-Nusra. O Exército da Conquista não passa de coletivo nebuloso de formações variadas de takfiris dentre as quais a Frente al-Nusra; quaisquer supostas “alianças” que pareça haver entre eles somem sempre nas areias do deserto.
A coisa fica ainda mais feia quando se sabe que Doha – via al-Jazeera Arabic – posa agora como patrocinadora oficial da Frente al-Nusra, convidando seus líderes e tentando empenhadamente erigir uma (virtualmente inexistente) barreira entre a Frente al-Nusra e o ISIS/ ISIL/ Daesh. Numa daquelas entrevistas, al-Nusra disse-o claramente:
(…) o Ocidente não será atacado, à moda al-Qaeda, enquanto continuar a chover armas por lá, além de muitos dólares norte-americanos e euros.
A “missão” deles na Síria continua a ser “mudança de regime”; exatamente o que Doha, Ancara, Riad, Telavive e – por falar nisso – também Washington desejam.
A nova normalidade chama-se al-Qaeda
O jornal turco Cumhuriyet publica um vídeo em que se vê a agência turca de espionagem MIT entregando armas à al-Qaeda na Síria, em caminhões.
E isso enquanto Ancara insiste na ficção de que estaria treinando “moderados” para lutar com o Califato fake. Nonsense: mais uma vez, não há mais “moderados”, só formações takfiris. E só os “moderados” cruzarem a fronteira turco-síria, que viram takfiris.
Siriaque – situação em campo (31/5/2015) (clique na imagem para aumentar) |
Entrementes, o ISIS/ ISIL/ Daesh prossegue firmemente em direção a Aleppo, tentando tomar vilas no nordeste da cidade. Desnecessário dizer, a “coalizão” só assiste ao movimento. O que torna tudo ainda mais absurdo é que uma série de grupos de oposição que se recusam a deixar-se rotular como takfiris – por exemplo os Revolucionários Sírios ou a Frente do Levante – mas estão lutando ao lado dos takfiris – pediram ao Pentágono que bombardeie sem piedade os bandidos do Califa.
Assim, enquanto o Pentágono reclama que está ficando sem alvos, e ao mesmo tempo em que é incapaz até para bombardear colunas de caminhonetes brilhantes no meio do deserto, e enquanto prosseguem as “conversações” em Paris, o ISIS/ ISIL/ Daesh está próximo de conquistar área extremamente estratégica, de Aleppo no norte, direto até a fronteira turca.
Se isso acontecer, todos – de soldados de Assad aos supostos “moderados” rebeldes – estarão sitiados.
Outro grupamento “moderado”, a Frente al-Izz, está perto de separar-se da coalizão. O líder, Mustafa Sijari, fez uma declaração extraordinária: disse que teria recebido ordens do Pentágono para dar combate ao ISIS/ ISIL/ Daesh e esquecer Damasco. Assumindo que não seja mentira, será mais uma prova de que o Pentágono age como espectador – tipo “árabes que matem árabes”, qualquer árabe e acredite no que acreditar.
Quanto à “estratégia” de Washington, não há estratégia nenhuma. Os conselheiros de política exterior do autodescrito governo “Não faça merda coisa estúpida” de Obama são piada.
Facções pró-governo no Departamento de Estado argumentam que Washington não pode alienar Teerã, atacando Damasco, porque os EUA precisam do apoio iraniano – e farto sortimento de milícias xiitas – para dar combate ao ISIS/ ISIL/ Daesh no Iraque. Mesmo assim, na Síria, os EUA dependem dos tais impalpáveis “moderados” não só para lutarem contra do Califato fake, mas também para ferir Damasco.
Pode-se começar a contar desde já as múltiplas variantes de tiros pelas culatras nesse cenário turvo. O Império do Caos é excelso fomentador – e do que seria? – de Caos. E quanto à destruição resultante, os locais que carreguem às costas as ruínas, enquanto o Império observa das coxias.
É sempre importante lembrar que as milícias tribais sectárias soltas no Iraque – e, em seguida, anos depois, na Síria – são consequência direta da “política” Made in USA de Dividir para Governar, posta em ação depois da destruição inicial do estado no Iraque.
Resumo disso tudo: o caos continuará prevalente. O ISIS/ ISIL/ Daesh continuará a avançar na Síria, imune ao poder de fogo do Pentágono; mas pode ser efetivamente contra-atacado no Iraque, graças a milícias xiitas, não ao poder de fogo do Pentágono. Isso é o que o Departamento de Estado define como “estratégia vencedora”.
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[*] Pepe Escobar (1954) é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna no Asia Times Online; é também analista de política de blogs e sites como: Sputinik, Tom Dispatch, Information Clearing House, Red Voltaire e outros; é correspondente/ articulista das redes Russia Today e Al-Jazeera. Seus artigos podem ser lidos, traduzidos para o português pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu e João Aroldo, no blog redecastorphoto.
Estou torcendo que EI tenha muitas vitoria eles são leões rebeldes eles tem muita coragem admiro isso.
Cleumer, por este comentário, suponho que ou você seja um troll ou que não faz a mínima ideia do que se passa naquela região… leões rebeldes? Coragem? Não mesmo! São sim vassalos dos sauditas, turcos e da OTAN, perpetrando crimes de guerra e desestabilizando a região com suas loucuras!
Os Estados Unidos continuam fingindo que combatem Estado Islâmico, mas na verdade eles controlam o grupo e aproveitando o serviço sujo desse grupo.
Na verdade os EUA,Turquia, Arábia Saudita, Israel e União Européia querem cabeça de Assad. Usam o serviço sujo do Estado Islãmico para tentar enfraquecer o Assad.