Marcos L Süsskind fez um artigo rebatendo outro de Lucia Helena Issa.
Tufy Kairuz rebate os fatos históricos ali contidos.
“Não deem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas aos porcos; caso contrário, estes as pisarão e, aqueles, voltando-se contra vocês, os despedaçarão”. Mateus 7:6
Um dos maiores paradoxos do mundo contemporâneo é entender como o sionismo por meio de uma narrativa infantil e rasa, em todos os sentidos, conseguiu, com êxito, em pleno século XX, realizar e blindar uma aventura colonial na contramão da História. Porém, aprendemos, a duras penas, que uma mentira ou mesmo um conjunto delas, não obedece a critérios qualitativos, mas sim a habilidade, o poder de manipulação e o fanatismo aliado a total falta de escrúpulos.
Sobre o punhado de falácias do “israelense” chamado Marcos L Süsskind sou obrigado, mais uma vez, literalmente, jogar pérolas aos porcos. Eu poderia encerrar a discussão pelo nome apelando para o mínimo de bom-senso, que ainda sobra para alguns, lembrando que um indivíduo como um nome desses se relaciona à Palestina como os habitantes do planeta Terra se relacionam ao planeta Mercúrio.
No entretanto, vamos lá. Ele começa sua curta “viagem” afirmando que a jornalista Lucia Helena Issa é “árabe muçulmana”. Em uma leitura hipotética de um manual imaginário intitulado “O Oriente-Médio para Idiotas” bastaria para aprender que alguém com esse nome, sobretudo, como o sobrenome “Issa” (Jesus, em árabe) é certamente descendente de árabes, mas apenas por um “milagre”, daqueles de proporções bíblicas, poderia ser muçulmana. Definitivamente, não se tem mais invasores como antigamente.
Infelizmente, a celebração do Purim não foi completa em razão do conflito sangrento ocorrido naquela cidade (Jaffa) em que um jovem árabe foi esfaqueado por judeus russos por causa de uma disputa romântica. Este incidente forçou as autoridades turcas a realizar prisões. Em retrospectiva, alguns historiadores passaram a descrever o evento como o primeiro conflito nacionalista entre árabes e judeus (SHOHAM, 2014).
Certamente, este e outros conflitos ocorreram não por ações de indivíduos, mas sim pelas tensões causadas pela chegada na Palestina de hordas de súditos do Czar russo disfarçados de “refugiados” radicalizados pelo sionismo (soa familiar?), cuja real intenção era invadir e ocupar terras a milhares de quilômetros de seus lugares de origem.
Depois de forma atabalhoada, “escrito em idioma que se assemelha ao português”, como diria Gilmar Mendes, o “semita honorário” Süsskind emenda na história surrada, que já havia sido ressuscitada recentemente pelo atual “primeiro-ministro” da colônia sionista na Palestina, cujo nome prefiro omitir (aquele que tentou “sionizar” o palestino chamado Jesus afirmando que ele falava “hebreu” e foi corrigido impromptu por um indignado Papa Francisco que enquadrou o mentiroso patológico: “Falava aramaico”) . Mas vamos tratar a História com algum respeito ao invés de assassiná-la como fazem os sionistas. Muhammad Amin al-Husayni (1895-1974), o “mufti” (jurista e erudito em direito islâmico) de Jerusalém” se tornou, entre 1917 e 1948, uma das principais lideranças palestinas. Al-Husayni era membro de uma família palestina de notáveis (os Husaynitas) que se tornaram, como outras famílias da elite do Levante, prepostos do Império Otomano (coleta de impostos, distribuição de justiça, posse de terras etc.).
Amin al-Husayni, com a chegada dos britânicos e a expulsão, em 1917, dos turcos-otomanos, passa a servir, diligentemente, os representantes de Sua Majestade a ponto de ser chamado de um “homem moderado” pelos seus novos patrões ingleses (MATTAR, 1988). Sobre os incidentes citados, em agosto de 1929, em que 133 judeus europeus e 116 palestinos pereceram, não há nenhuma evidência sólida da responsabilidade Amin al-Husayni no conflito. Ao contrário, já naquela época, pasmem, diante do boato que os invasores sionistas iriam atacar o Haram al Sharif (a Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém), Amin al-Husayni pediu aos palestinos para se armarem “com misericórdia, sabedoria e paciência, pois Deus está com os pacientes” (SHAW COMMISSION REPORT, 1937).
- A causa imediata da violência foi a demonstração sionista em 15/08/1929;
- A violência, do lado palestino, foi espontânea e não organizada por ninguém;
- A violência ocorreu em várias cidades, como Hebron, onde o Mufti não tinha influência;
- O apelo escrito conclamando os palestinos a defender o Haram al Sharif foi comprovadamente forjado por um não-árabe (SHAW COMMISSION REPORT, 1937).
Ademais, o Mufti Amin al-Husayni recusou a ideia de formar proposta pela resistência palestina de iniciar uma campanha de guerrilha e afirmou preferir uma solução política para o conflito. Em outubro de 1929, quando os britânicos propuserem um acordo para um parlamento com representação proporcional entre palestinos e judeus europeus, o Mufti aceitou, mas a proposta foi recusada pela liderança sionista cujas ambições eram ocupar toda Palestina e expulsar a população nativa.
No entanto, por razões óbvias, a fase da vida de Mufti Amin al-Husayni mais distorcida é justamente a sua ligação, quando estava no exilio, com a Alemanha nazista. Por certo, esta relação é indiscutível, mas todas as tentativas dos sionistas de envolvê-lo, de alguma maneira, nas ações que culminaram com o extermínio de judeus europeus nunca foram levadas a sério pelas autoridades britânicas. Até prova em contrário, o que fica evidente é que os nazistas quiseram usar Amin al-Husayni contra os britânicos e comunistas e que ele, por sua parte, cooperou com os nazistas na esperança de expulsar os britânicos do Oriente Médio e impedir que os sionistas dominassem e expulsassem os palestinos de sua terra ((MATTAR, 1988).
No final da guerra, o Mufti al-Husayni escapou dos esquadrões da morte sionistas e, como toda a liderança palestina, rejeitou uma partilha, em 1947 (sugerida pela ONU) na qual os sionistas, com apenas 7% da população, ficariam com 55% da Palestina. O British Foreign Office concluiu, em resposta aos pedidos sionistas para “eliminação” do Mufti, “que ele foi apenas alguém que agiu de acordo com as circunstâncias e que qualquer um, em seu lugar, não teria feito muito diferente, para evitar um resultado político inevitável” (FOREIGN OFFICE, 1940).
Sobre a acusação de Herr Süsskind das “legiões” muçulmanas à serviço do nazismo, tal fato ocorreu longe da Palestina, em um contexto geográfico e geopolítico dos Balcãs, na Europa (talvez em razão do seu subconsciente europeu ele ache que o Oriente Próximo é um apêndice da Europa). As divisões da Waffen SS (forças combatentes) em questão eram forças multiétnicas formadas por bósnios (bosniaks), croatas (católicos) e alemães étnicos da antiga Iugoslávia que juraram lealdade a Adolf Hitler e ao líder croata Ante Pavelic. O Mufti Amin al-Husayni frisou, na ocasião, que a “tarefa mais importante da divisão seria proteger terra natal e as famílias dos voluntários bósnios” (LEPRE, 1997, p. 34). Além disso, diante do fracasso do recrutamento dos bósnios muçulmanos, o número de soldados croatas (católicos) aumentou consideravelmente. Convém não esquecer que as Waffen SS, entre 1940 e 1945, recrutaram soldados e formaram divisões de estrangeiros, por toda Europa, somando mais de meio milhão de um contingente composto de uma miríade de nacionalidades (STEIN, 1994).
Por último, ao invés de escrever (mal) peças de ficção, poderia tentar explicar por que o sionismo é uma ideologia racista, nacionalista, colonialista e supremacista nascida na Europa consequência das relações conflituosas entre europeus, cristãos e judeus, que se se resolve à custa dos palestinos. Poderia também explicar por que populações de origem turco-eslava, convertidas há 1000 anos ao judaísmo, na periferia da Europa, possuem qualquer direito à Palestina. Poderia ainda, caso tenha lhe sobrado um vestígio de decência, fazer como tantos “israelenses” que se constrangem com o ridículo da narrativa sionista: deixar a hipocrisia de lado reconhecendo que as narrativas mitológicas (terra prometida-diásporas-retorno-hebreus), entre outras justificativas baseadas em um pseudo excepcionalismo, para justificar uma aventura colonial na Palestina se tornaram desnecessárias diante da força dos lobbies, da mídia, do poderio militar e do arsenal inesgotável de velhacarias do sionismo, que manipula a religiosidade dos incautos e joga com a culpa, com a compaixão, com o egoísmo e com a ignorância das audiências amorfas do Ocidente