Guila Flint | Tel Aviv – 14/11/2014 – Opera Mundi
Série de atos violentos cria expectativa sobre possível início de Terceira Intifada
O conflito nacional e territorial entre Israel e os palestinos, que dura mais de um século, vem adquirindo um viés religioso com alto potencial explosivo.
Nesta quarta feira (12/11) uma mesquita foi incendiada perto de Ramallah, na Cisjordânia, e uma bomba incendiária foi lançada contra uma sinagoga no norte de Israel. O ataque à mesquita é atribuído pelos palestinos aos colonos israelenses que moram em assentamentos nas redondezas e, em Israel, pressupõe-se que a bomba na sinagoga foi lançada por um palestino.
Agência Efe
Nas mãos de palestino, o que restou de uma cópia do Corão após incêndio em uma mesquita na Cisjordânia
O conflito entre os dois povos parece estar entrando em um novo capítulo, ainda mais duro do que os anteriores, no qual o sentimento religioso fala mais alto e argumentos políticos perdem espaço.
Esplanada das Mesquitas ou Monte do Templo
O foco principal da tensão religiosa é a Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, um dos locais mais sagrados para a religião islâmica e onde se encontram a Mesquita de Al Aqsa e o Domo da Rocha.
Depois de ocupar Jerusalém Oriental na guerra de 1967, Israel declarou que respeitaria a esplanada como local de culto exclusivamente muçulmano e que o santuário continuaria sob controle do Waqf — autoridade islâmica que dirige as mesquitas desde o ano de 1187.
De acordo com a tradição judaica, o Segundo Templo, destruído em 70 d.C., encontrava-se no mesmo local e, portanto, em hebraico o nome é Monte do Templo, considerado o lugar mais sagrado para a religião judaica.
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Nos últimos meses, vem se intensificando uma campanha, promovida por políticos de extrema-direita, em prol do “direito à oração” de judeus no local mais explosivo do Oriente Médio.
Esses políticos, liderados pelo ministro da Habitação, Uri Ariel, já entraram diversas vezes na esplanada, acompanhados por forte esquema de segurança, gerando a revolta dos fiéis palestinos que temem a concretização das promessas de “construir o Terceiro Templo no Monte do Templo”.
Agência Efe
Policial israelense escolta grupo de judeus ultranacionalistas na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém
No dia 5 deste mês, a tensão alcançou um ápice quando a polícia israelense invadiu a mesquita de Al Aqsa em busca de jovens palestinos que haviam lançado pedras, ato que levou a Jordânia a chamar seu embaixador em Israel para consultas. No mesmo dia, um palestino de Jerusalém utilizou seu carro como arma e atropelou policiais israelenses que estavam em uma estação de trem. Um policial morreu e dois ficaram feridos.
Foi o início de uma série de ações individuais de palestinos, alguns com carros e outros com facas, que atacaram israelenses em Jerusalém, Tel Aviv e na Cisjordânia, matando 6 pessoas e ferindo dezenas.
Terceira Intifada?
Analistas israelenses se perguntam se essa sequência de ataques indica o início de uma Terceira Intifada (levante popular palestino). Ainda não se sabe se essa nova onda de violência será contida ou irá adquirir a dimensão de um amplo levante como aqueles que aconteceram em 1987 e 2000.
No entanto, esses atos individuais demonstram o potencial explosivo da mistura do sentimento religioso com o conflito nacional e territorial.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, prometeu que o status quo na esplanada será mantido e anunciou “medidas duras contra os terroristas”, inclusive a destruição das casas dos autores de ataques a israelenses. O presidente palestino, Mahmoud Abbas, acusou Israel de “provocar uma guerra religiosa”.
“Afastem os colonos extremistas da mesquita de Al Aqsa e de nossos lugares sagrados. Não permitiremos que nossos lugares sagrados sejam profanados”, declarou Abbas.
Em resposta, o chanceler de Israel, Avigdor Lieberman, disse que “não há diferença alguma entre Abu Mazen [apelido de Abbas] e Yasser Arafat. Ambos odeiam judeus e promovem o terror”.
O Hamas anunciou a criação de um “exército popular para defender Al Aqsa” e elogiou os ataques com carros e facas contra israelenses.
(*) Guila Flint cobre o Oriente Médio para a imprensa brasileira há 20 anos e é autora do livro ‘Miragem de Paz’, da editora Civilização Brasileira.