Hoje (21/3) é Dia das Mães no Mundo Árabe… um bom dia para um belo poema do quase infalível Mahmud Darwich
O poema “Para minha mãe” me pareceu um pouco mais difícil de traduzir; ele parecia revelar sem constrangimentos a limitação do meu talento…
Tenho certeza de que há modos mais profissionais de traduzir poesia, modos que, num caso como este, permitiriam encontrar os bons substitutos para imagens que, fora do árabe, causam estranhamento…

Já eu, confesso que mal procuro pelo caminho que tentaria preservar o poético escapando do literal… são justamente essas imagens, tão potentes no árabe e tão estranhas fora dele, que me fazem sentir o que sinto (a palavra em árabe para poeta pode significar “aquele que sente”)…
Quem quiser fazer a sua própria tentativa encontrará a versão em árabe ao final…
De todo modo, tenho em mente, hoje e todos os dias, as mães de Gaza, que perderam tantos filhos, e os filhos de Gaza, que têm perdido tantas de suas mães.
Para minha mãe
Mahmud Darwich
Anseio pelo pão da minha mãe
e pelo café da minha mãe
e pelo toque da minha mãe
Envelhece em mim a infância
Um dia sobre o peito de outro dia
E amo a minha vida porque…
se eu morrer…
tenho vergonha diante das lágrimas da minha mãe!
Faça de mim, se eu voltar um dia
Um laço em sua bainha
e cubra meus ossos com a palha
batizada pela pureza de seu andar
E aperte minhas amarras
com um tufo de cabelos
com um fio que balança na borda de seu vestido
Queria me tornar um deus
um deus me tornar
Se eu pudesse tocar a profundeza do seu coração!
Faça de mim, se eu voltar
combustível para o forno do seu fogo
e corda no varal do pátio do seu lar
Porque já não sei ficar de pé
sem a reza do seu dia
Eu ruí… devolva então as estrelas da infância
Para que eu possa compartilhar
Com os pequenos pássaros
O caminho de volta…
Para o ninho da sua espera!