Quantas balas são necessárias para apagar a Palestina?

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Jornalista Shireen Abu Akhel, assassinada pelo FDI em Jenin na Cisjordânia- Palestina Ocupada

Por Claude Fahd Hajjar*

A catástrofe continuada: execuções extrajudiciais, demolições de casas, desapropriações, somam-se a exploração predatória, subjugação, supremacia racial, segregação, vigilância, controle, monitoramento, agressão militar e regime de apartheid também se atualizam, se ampliam e se aperfeiçoam por meio de dispositivos de inteligência artificial. Tecnologias que são a base do capitalismo de vigilância e do colonialismo de dados tornam possível bombardear uma estrutura física e atingir um corpo palestino com apenas um clique. Esse mesmo dispositivo de morte “inteligente”, tão preciso e letal, assassinou a jornalista palestina Shireen Abu Akhel mesmo ela utilizando um capacete e um colete azul à prova de bala contendo a palavra “PRESS”.

Abu Akleh foi morta a tiros enquanto fazia uma reportagem sobre um ataque militar israelense ao campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia ocupada, em 11 de maio de 2022. A jornalista estava com um grupo de outros repórteres e seu colega, o produtor da Al Jazeera, Ali al-Samoudi, também foi baleado e sobreviveu aos ferimentos.

Ao longo de mais de duas décadas como repórter e correspondente da Al Jazeera aonde começou em 1997, Abu Akleh relatou extensivamente sobre vários acontecimentos importantes na Palestina. Pela sua precisão e profissionalismo, bem como pelas suas reportagens distintas, Abu Akleh tornou-se um nome familiar em todo o mundo árabe. Ela dedicou a sua carreira a revelar a injustiça e a terrível situação dos palestinos sob ocupação israelense e inspirou muitas mulheres palestinas e árabes a seguirem carreiras no jornalismo

O que a aniquilação do corpo da Shireen e dos milhares de outros comunicadores, ativistas, paramédicos e civis palestinos (incluindo menores) tem a nos dizer? Palestinas e palestinos têm chamado o colonialismo, a violência e a produção de políticas de morte – a necropolíticapraticada pelo Estado de Israel de “Nakba continuada”. Ou seja, os territórios que ainda “restam” e o corpo palestino são transformados em matéria-prima para fins de domínio colonial. Até quando?

A Cisjordânia que pelo Direito Internacional é um território palestino vem sendo sistemáticamente ocupada por novos e agressivos colonos armados e protegidos pelas Forças de Defesa de Israel. Quando um jornalista testemunha e registra o fato e dá voz a uma população oprimida ele recebe bala na cabeça. Simbólicamente “ Você é palestino não pode pensar, não pode se expressar, não pode reenvindicar, e nem se manifestar” por isso você morre com bala na cabeça.

Para o Israelense, palestino é terrorista, palestino bom é palestino morto. Esta é a política educacional e civilizacional do Estado genocida de Israel.

Enterro

Nosso corpo precisa ser controlado, preso, mutilado e exterminado até na morte”, dizem palestinos e palestinas. Shireen era cristã e sua família optou por uma procissão que seria realizada em uma catedral (Cathedral of the Annunciation of the Virgin) localizada em Jerusalém Oriental. Já no percurso para a realização do velório, a família encontrou dificuldades de transferir seu corpo do hospital em Sheik Jarrah para a igreja. Militares fortemente armados bloquearam estradas e ruas para dificultar o acesso dos enlutados à Cidade Velha. Vários vídeos divulgados pelas mídias locais e internacionais mostram como todo um aparato militar foi acionado para atacar civis com bombas de gás lacrimogêneo.

Familiares e amigos que carregavam o caixão tiveram suas pernas espancadas com cassetetes pelas forças israelenses, numa clara tentativa de fazer com que o caixão fosse derrubado. Até o corpo já morto de Shireen foi brutal e publicamente desrespeitado. Por quê? O que um corpo palestino morto representa ao Estado sionista? Podemos retornar à questão do desejo sionista pela eliminação do sujeito palestino não apenas em sua dimensão física, mas também simbólica. Enquanto viva, a Shireen é retirado o seu direito de existir. Morta, é-lhe retirada ainda a possibilidade de ser passível de lamento, de choro e de “luto público” no limite, a sua própria condição humana.

Particularmente na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, todos os cortejos fúnebres ganham uma dimensão de luto público e um caráter de protesto quando a vítima – ou “mártir” – sucumbe através de uma operação militar minuciosamente orquestrada. Um gesto simbólico de solidariedade entre palestinos e também uma tática de resistência contra a política da morte.

Daí a importância da presença pública do corpo para as famílias e para a sociedade civil palestina durante os enterros. É uma forma de ressignificar o ato fúnebre e dizer: “a luta e o luto são do povo”. Essa é uma das razões pelas quais as autoridades israelenses demoram meses – às vezes anos – para devolver os cadáveres às famílias. Ao tentar negar aos familiares, amigos e todos que se comoveram com o assassinato de Shireen o direito ao luto, Israel busca, mais uma vez, apagar a dor da Palestina aos olhos e corações do mundo.

Santuário de Shireen Abu Akleh profanado na Cisjordânia

O governo de Israel , não satisfeito com todas as atrocidades cometidas contra jornalistas, e na figura de Shireen Abu Akleh, na madrugada de 27 de outubro de 2023, 20 dias após a Operação Inundação Al Aqsa, e em seguida á publicação do relatório publicado pela ONU que afirma que as forças israelenses “mataram Abu Akleh de forma intencional ou imprudente”, destruio mausoléu de Sheriin  com  escavadeiras, “destruiram o asfalto e retiraram tudo o que lembrava a jornalista assassinada” afirmaram moradores do bairro em Jenin .

O local do assassinato da jornalista palestino-americana Shireen Abu Akleh foi demolido e o seu santuário profanado. Uma estrada asfaltada, rua Balat al-Shuhada, no bairro Jabriyat de Jenin, que passa entre as casas foi reduzida a enormes pedras de concreto quebrado e a terra escavada a mais de meio metro de profundidade por membros das Forças de Defesa de Israel (IDF). Antes, veículos passavam pela pista. Um dia depois, até caminhar entre as pedras quebradas é um desafio. Pinturas de Abu Akleh e homenagens deixadas no local onde ela foi baleada foram destruídas.

A Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) juntou-se à sua afiliada, o Sindicato dos Jornalistas Palestinos (PJS), na condenação de mais este ato de vandalismo e convoca o Tribunal Penal Internacional (TPI) para investigar o assassinato de Shireen Abu Akleh.

Nasser Abu Bakr, presidente do Sindicato dos Jornalistas Palestinos e o Secretário Geral da Federação Internacional de jornalistas, Anthony Bellanger, concordam:

Este é um ato monstruoso de destruição. A família e os amigos de Shireen encontraram algum consolo visitando o local onde ela foi baleada e prestando homenagens. Este ato desenfreado de vandalismo é certamente um cruel ato de vingança de um tipo que só pode exacerbar as tensões na Palestina. Quanto mais cedo o TPI der a este caso a atenção que merece, melhor. Já que a Federação Internacional de Jornalistas já apresentou queixa”.

O fracasso de Israel em investigar e garantir justiça

Várias investigações independentes, incluindo as conduzidas pela Associated Press, The New York Times, The Washington Post e Bellingcat, concluíram que Shireen Abu Akleh foi morta por uma bala disparada por um membro das Forças de Defesa de Israel. As investigações da CNN e da Forensic Architecture, com sede em Londres, concluíram ainda que Abu Akleh foi o alvo intencional.

Israel desde 11 de maio de 2022 vem se furtando a abrir ou colaborar com qualquer investigação.

Para um Estado pária e marginal investigar um crime seria confessar o crime.

Este padrão de violência mortal contra jornalistas na Palestina por parte das Forças de Defesa de Israel aumentou para níveis sem precedentes desde a eclosão da guerra em Gaza em Outubro de 2023. Até hoje, mais de 150 jornalistas foram mortos, a grande maioria dos quais foram jornalistas palestinos mortos por ataques aéreos ou bombardeios das FDI.

Foram estes bravos e destemidos guerreiros da informação e da verdade que fizeram com que a máscara de Israel fosse retirada e foi revelado ao mundo a verdadeira natureza cruel e genocida do regime israelense e ainda apoiado por uma população que aplaude este genocídio.

Foi o Jornalismo alternativo das mídias sociais e do streaming que fizeram o mundo assistir ao primeiro genocídio televisionado.

A luta pela libertação da Palestina apenas começou, e o seu alto preço está sendo pago pela perda da vida de crianças e mulheres através das armas americanas e europeias, operadas por israelenses.

Uma guerra desproporcional que usa armas desproporcionais em um pequeno espaço de terra.

O resultado foi morte, destruição, fome e o sequestro da vida em todos os sentidos.

A impunidade de que goza Israel resultou no assassinato e na perseguição de ainda mais jornalistas em Gaza. Ao matar jornalistas, Israel quer que a sua existência de mentiras e calunias se perpetuem tanto em Gaza como na Cisjordânia, aonde a TV Al Jazeera foi proibida de operar.

O jornalismo não é um crime – mas visar jornalistas é”

Parem o genocídio!

 

*Claude Fahd Hajjar, Editora do site Oriente Mídia

Conselheira da Presidência de Fearab América


Referencias bibliográficas:

1- https://diplomatique.org.br/o-assassinato-de-shireen-abu-akleh-e-a-politica-de-morte-israelense/

(Michelle Ratto )

2-https://ipi-media.translate.goog/two-years-on-ipi-renews-call-for-justice-for-killing-of-journalist-shireen-abu-akleh/?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-BR&_x_tr_pto=sc

3- https://www-ifj-org.translate.goog/media-centre/news/detail/category/press-releases/article/palestine-shireen-abu-akleh-shrine-desecrated-in-the-west-bank?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-BR&_x_tr_pto=sc

 

 

 

 

 

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