Os palestinos rebelam-se contra a ocupação israelense dos seus territórios e das suas vidas cotidianamente. Entretanto, nos últimos dias, uma escalada intensificou a violência dos confrontos diários e a Palestina volta ao noticiário internacional, sob uma pergunta que não quer calar: já chegamos à terceira intifada – o levante popular contra a ocupação? Mas a quem serve a indagação e qual é o seu conteúdo?
Por Moara Crivelente*, para o Portal Vermelho

Jovens palestinos e soldados israelenses entram em confronto em Hebron.
A intifada palestina é a resposta vigorosa à persistência da opressão sistemática promovida pelo regime israelense. Desde 2014, após o descarrilamento de mais um período vazio de negociações diplomáticas, a situação na Palestina ocupada tem deteriorado, com picos fatais nos confrontos e a reflexão necessária sobre o estado das coisas.
Na Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente Mahmoud Abbas deu expressão formal ao crescente descontentamento dos palestinos com o inócuo “processo de paz”, visto por muitos como uma tentativa dos aliados de Israel de liquidar a resistência. Desde o início dos anos 1990, a série de conversações e acordos pretensamente provisórios enraizou a ocupação israelense na Palestina. Por isso, Abbas disse que poderia se avizinhar o momento em que os palestinos denunciariam acordos que apenas um lado tem cumprido.
No centro deste debate está a chamada “cooperação securitária” com Israel. Em março, o Comitê Central da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) votou, diante da escalada da violência nos territórios ocupados, tanto pela suspensão da coordenação securitária quanto pelo boicote aos produtos israelenses. “Israel, a potência ocupante na Palestina, deve assumir as suas responsabilidades, em acordo com as suas obrigações sob o direito internacional,” afirmava em comunicado.
A decisão justificou-se pelo “não cumprimento sistemático e contínuo por Israel das suas obrigações a partir de acordos assinados, inclusive suas batidas militares diárias no Estado da Palestina e ataques contra os nossos civis e propriedades”, e pela “negação sistemática do direito palestino à autodeterminação”, mas ainda não foi implementada na prática. Os palestinos sofrem considerável pressão dos “países doadores”, principalmente os Estados Unidos. Mas a especulação sobre uma possível intifada é persistente e a preparação de Israel é engalfinhar-se com os palestinos para salvar a ocupação.
O levante diário da resistência palestina
As revoltas nacionais contra a colonização são históricas e remetidas até a década de 1930 pelo marxista palestino Ghassan Kanafani e tantos outros. Com foco na luta de classes e na resistência à colonização, o autor já avaliava a articulação do seu povo na contestação. Retornando, então, aos movimentos contemporâneos de resistência popular, organizada ou não, com pedras, armas ou diplomacia, as intifadas palestinas são diárias.
Para cada vez mais renomados atores da “diplomacia” israelense, e também da estadunidense, para que haja uma “estratégia de segurança” – contra os palestinos – deve-se “manter o status quo”. Algumas das formas de dissuadir os palestinos são práticas evidentes de “punição coletiva”, reconhecidas como crimes de guerra. Para justificá-las, a liderança israelense usa tanto ataques de palestinos exasperados contra colonos e soldados – com diversos casos de investidas com facas que resultaram em ao menos quatro mortes entre israelenses neste mês – quanto as manifestações a base de pedras e coquetéis molotov contra veículos blindados.
Pela Palestina livre da ocupação, a bandeira da mudança
Segregação e ofensivas enraízam a colonização na Palestina ocupada
Estrutura do novo governo de Israel, pela ocupação e contra a paz
*Moara Crivelente é cientista política, jornalista e doutoranda em Política Internacional e Resolução de Conflitos, e assessora a Presidência do Conselho Mundial da Paz através do Cebrapaz.
O texto é muito bom, achei o título um pouco confuso.